- Olá. Espero não estar incomodando, mas, de qualquer forma, serei breve.
- Não está incomodando. Pode falar.
- A questão é bem simples. Estou à venda e quero saber se você tem interesse em me comprar.
- Comprar você?
- Pra ser mais exata, me alugar. Um aluguel que irá da hora em que você fechar negócio até o primeiro raio de sol.
- E esse aluguel dá direito a exatamente o quê?
- Ao meu amor total e irrestrito.
- Mas aí não seria amor.
- Por que não?
- Porque amor é algo que se conquista com o tempo. Não pode ser fruto de um contrato.
- E o casamento? Não é um contrato?
- Mas ele não dá início ao amor, ele só firma um pacto entre os noivos. Um pacto abençoado por Deus.
- Um pacto de?
- Ahhhh... de convivência, de respeito mútuo, de...
- Amor.
- Mas, como eu já disse, não é o casamento que faz nascer o amor. É justamente o oposto. O amor faz nascer o casamento.
- Não quero questionar suas verdades. Estou te fazendo uma proposta simples, espero uma resposta. Só isso.
- Você está me fazendo uma proposta impossível de ser cumprida. Se você estivesse me oferecendo seu corpo tudo bem, mas seu amor...
- Estou te oferecendo meu corpo também. Quem ama se entrega de corpo e alma.
- Alma. Aí é que está. Você pode até me entregar seu corpo, mas sua alma não, a não ser que seu amor seja sincero.
- Você pode ver a alma de alguém que diz te amar? Pode tocar a alma?
- Não, mas posso perceber através das atitudes. Falar que ama é fácil, agir conforme esse amor já é outra coisa.
- Então, no fim das contas, o que realmente importa não é o sentimento, mas as atitudes?
- O sentimento leva às atitudes.
- Pode até ser, mas o fato é que você não vê sentimentos, então não deixa de ser uma suposição, fruto de uma espécie de fé.
- Sim. Se sentir amado pode ser isso mesmo, perceber as atitudes do outro e acreditar que elas são motivadas por amor, e não por outro sentimento.
- Então, na verdade, não interessa tanto se eu sou capaz de te amar ou não, mas se você é capaz de acreditar ou não. O meu amor por você tem que ser uma criação tão sua quanto minha. É isso?
- Você não disse qual é o preço do aluguel.
- Isso é você que vai decidir.
- Eu que vou dizer quanto vale o seu amor?
- E não é sempre assim? O máximo que a gente pode fazer é amar, mas quem diz o quanto esse amor vale é o ser amado.
- E se eu te oferecer nada em troca.
- Aí nada feito. Amor sem qualquer retribuição só o materno, e não é isso que estou te oferecendo.
- Ei, garota. Estava ouvindo a conversa e estou disposto a atribuir um valor ao seu amor e pagar por ele.
- Negócio fechado.
Ela se aninhou no abraço aberto a sua espera e acompanhou aquele homem impetuoso que escutara toda a conversa sem que ela tivesse percebido. Antes, porém, despediu-se com um sorriso daquele a quem ela poderia ter amado. Mas não amou.
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11 comentários:
Tava com saudade dos seus textos já, mas a espera valeu a pena hein, sensacional.
Bkjs =)
E simples assim, se descomplica o sentido das coisas. Se a cabeça do homem é foda, a cabeça da mulher também pode ser. Há momentos para os quais, talvez não haja mesmo, muita coisa a dizer.
Dani, teu texto me lembrou Manoel Bandeira: " A alma é que estraga o amor...As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.Porque os corpos se entendem, mas as almas não."
bj
Nossa adorei o seu texto, interessante essa forma de pensar...
irei refletir um pouco sobre o assunto...rsrsrs
Boa Semana para ti.
Olá minha querida amiga Dani, que maravilhosa essa história, as diversas formas de se receber e aceitar o amor e o corpo, que para mim só funcionam juntos. Parabéns e muita paz e harmonia em sua vida.
forte abraço
C@urosa
Ah menina, você é...Sabe o que fazer com as palavras! Digamos que assim é mais claro, porém mais breve. Negócio fechado eu também ouvi a conversa. Genial! Beijo
Dani,
Um diálogo sobre o (im)ponderável.
Um beijo.
Ai, entrei em parafuso... Como pode lançar questões e argumentar com tanta eloquência essas questões que vc mesma propõe?
Vc me dá um nó. E isso é fantástico sempre.
Bjs
o amor não criado, não vivido, não sentido ... há sentido em tudo isso?
Sim, eu penso que há. E há sempre 10 sentidos ... ou 12, se contarmos a intuição.
É estranho, mas é poético conceber um amor assim, e escrevê-lo sem tê-lo admoestado ou dele usurpado aquele algo mais ...
Mas na alma de cada poeta, e acredite: você é uma; existe a real possibilidade de se amar ou de se virtualizar qualquer sentimento tomando-o como seu.
É assim quando eu falo do amor, muitas vezes sem tê-lo vivido do modo como o descrevi e acredito que com você não é tão diferente.
Sobre o texto, ele é rico e ofegante. E o suspiro que se arranca de quem o lê, principalmente quando o desfecho se impõe, é um suspiro de morte. Morte de uma vida que não aconteceu.
"A amizade sempre será primordial na vida e no relacionamento entre os seres" Paz e harmonia e um bom final de semana.
forte abraço
C@urosa
Pelo visto, o cara perdeu um ótimo negócio!
Bjoo!
Até que enfim conseguir retribuir suaß visitas, prometo freqüentar mas esse espaço...
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