Até a última noite

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Pesadelos sempre me perseguiram, sempre. Talvez sejam a única companhia constante e ininterrupta de minha vida, os únicos que nunca foram embora, por mais que eu tentasse afastá-los, convencê-los a desistir de mim.

Eles surgiram na infância, eram estórias de seres monstruosos, disformes, bruxas que insistiam em não seguir o roteiro original e sempre acabavam vencendo as pobres princesas, que, por sua vez, não entendiam o que estava acontecendo. Cadê o príncipe? Nada de príncipes, nada de cavalos brancos, aliás nem sapos havia, afinal não eram sonhos cor-de-rosa.

O tempo passou, tão inesperadamente rápido, e ninguém lembrou de avisar aos meus invasivos companheiros noturnos que deviam ter ficado lá atrás, adormecidos, junto de minhas outras lembranças pueris.

Não, ninguém avisou, então, eles, os pesadelos, fizeram suas malas a cada vez que eu juntei todos os trapos e parti. É, eles nunca me deixaram partir sozinha, e não havia nada que eu fizesse que os convencesse de que não sou muito adepta a companheiros inseparáveis.

Hoje, continuo sentindo aquela angustiante sensação de ser personagem de uma estória que não posso controlar, fico ali, totalmente consciente, mas sem conseguir voltar ao silêncio tranqüilo de meu quarto escuro. Fico presa naquele mundo paralelo, sentindo um aperto, um desamparo que machuca, que desestrutura. Até que resolvem me expulsar, me mandarem de volta pra viver mais um pouco, ver mais um pouco, capturar mais imagens e pessoas que serão fragmentadas e misturadas para servirem de pano de fundo às cenas dos próximos capítulos.

Já passou o tempo do desepero, não há mais cama da mamãe pra me refugiar, nem adianta gritar, nem chorar, eles não vão deixar de voltar amanhã ou depois. Passado o tempo em que me debati, parei de lutar, deixo-me afundar até os recônditos de mim mesma, as profundezas da minha alma.

Sei que naqueles angustiantes momentos, estou em contato com tudo que a claridade do dia me permite ocultar, os mais íntimos medos, inconfessáveis desvios, vergonhosas fraquezas. Dói, dói profundamente, de um jeito estranho, sem definições e delimitações, mas deve haver o lado bom de poder nadar na minha própria lama. Até porque, por pior que as coisas estejam no meu "inferninho" particular, eu sempre volto à tona, e cada vez com mais vontade de respirar.

Enfim, sou uma sobrevivente do meu próprio caos, um ser que, a cada acordar, nasce do seu próprio ventre, com a certeza de que vai morrer logo adiante, mas com o alento de que cada manhã não é mais do que uma nova oportunidade e será sempre assim, até a última noite.

P.S.: Não pensem que eu detesto as noites, na verdade, muito pelo contrário, mas esse é um outro assunto...

6 comentários:

Zunnnn disse...

Vamos ao que interessa.

- Principes? Imperfeitos e distantes?

- Fenix? Renascer das cinzas?

- Já disseram que estamos sempre onde queremos estar? Às vezes isso faz sentido, outras nem tanto.

Agora me diz, como consegue querer ter e preferir assistir? É uma dúvida pessoal.

Abraços

Anônimo disse...

Bom,hj me reservo o direito de NÃO comentar o post deste sabado...

Isso pq hj um sentimento um pouco incomum tomou conta de mim nesse começo de noite,quem sabe uma curiosidade egocentrica,quem sabe algo que não sinto com tanta frequencia a ponto de não entender bem,e que honestamente me faz pensar,refletir bem acerca das palavras a serem usadas para descreve-lo.(fato igualmente raro pra mim)
Enfim,indo direto ao ponto,falo de um carinho que nasce dentro da gente em torno de algumas pessoas,no meu caso bem poucas pra ser sincero,e que - ai entra o meu provavel egocentrismo - me faz ter a curiosidade de conhece-las "antes de mim",saber como eram,que faziam,e que tinham uma vida antes que eu as conhecesse e vice-versa.Não exatamente pra notar se mudei elas em algum aspecto,isso não;talvez o que eu realmente busque com isso é provar pra mim mesmo algo que a razão sabe,por vezes eu veja,mas que as minhas desesperanças duvidam:a existencia de pessoas admiraveis aos meus olhos.
Obvio,nunca isso tinha sido possivel,alias,nem tão óbvio assim,mas realmente nunca tinha me acontecido...ouvimos as estórias que elas nos contam,sua versão doas fatos dentro de outro estado de espirito,mas essa experiencia foi sem duvida diferente,me vi satisfeito na tentativa de conhecer a existencia desse alguem antes da minha existencia para ela e saber de fatos que balançaram ela no calor desses fatos...

"Toda estréia é acompanhada por alvoroço e excitação. Pelo menos comigo sempre foi assim. O primeiro dia na escola, na faculdade, no trabalho. O primeiro olhar, a primeira palavra, o primeiro beijo. Com o blog não poderia ser diferente, até porque falar sobre suas impressões não será tarefa fácil para alguém que nunca sentiu muito prazer em falar de si mesma. Mas também, quem disse que gosto mais das tarefas fáceis? Por isso, aqui vão minhas impressões, contraditórias, confusas, obscuras, mas, acima de tudo, puras. Espero que alguém se divirta, mesmo que esse alguém seja eu mesma."
(entre outros trechos,li todos... rs)


Compreendam-me ou não,peço licença pra usar-me desse espacinho uma vez mais,quase como se fosse meu.Ficou a certeza racional de que as pessoas admiraveis estão ai,com ou sem mim,e a conclusão de que talvez seja melhor me esforçar mais pra encontra-las e enxerga-las.

sem mais por ora,começo a me encharcar disso(num sentido bom)

bjim querida,saudade é mesmo um sentimento inevitavelmente solitário... mas ainda nos "encontramos" né? hehe

PS>me manda a conta pelo espaço utilizado,só não me cobra mais caro por sair nos classificados de domingo hein! rsrs bjos

Anônimo disse...

Será que diante de pesadelos que se repetem, entre outras hipóteses, não seria o caso da gente tentar fazer uma autoanálise sobre a nossa vida? Pode ser que se esteja sob o clamor de mudanças em favor de se romper com um tipo de vida, a qual, inconscientemente falando, está sendo um pesadelo para a gente mesmo...Não, não estou querendo sugerir que seja fácil mudar! Eu próprio, sendo sincero, só acabo mudando qdo sofro...E a dor, para mim, é uma "m"...Entretanto, às vezes ela, paradoxalmente, educa.Quem sabe para evitá-la talvez seja o remédio de se refletir em um ditado poético: "A compreensão nos cobra que introduzamo-nos na prática de se tentar superar nossos ptos cegos...

Anônimo disse...

Bem vindo ao clube dos insatisfeitos, dos desencaixados,dos que por possuírem excesso de paixão vão para a cama e, quem sabe, realizam-se -ainda que por segundos- pela paixão triste (considerando que é, mtas vezes, triste o pesadelo...). Porém, tal fato ocorre não porque estamos de "menos" em algo, mas ao contrário, ocorre porque amamos em excesso, esperamos em excesso, queremos em excesso, desejamos, sonhamos (com pesadelos) em excesso...! Assim, além de lhe sugerir a leitura de uma poeta (Maria Tsvetáieva. Indícios Flutuantes. SP: Martins Fontes, 2006),deixo-lhe uma poema dela: "Há dois inimigos em mim. Dois gêmeos indissoluvelmente amarrados: a saciedade dos satisfeitos; a fome dos esfomeados...!"

Anônimo disse...

Hum... Tá bom ser notívago, bem que você me disse que gostava de clichês.
Legal.
Se quiser pode me cobrar algo que de alguma forma se assemelha a isso.

Anônimo disse...

Menina, que horror!!!pesadelos persistentes esses, eu heim!!!
Sabe, qdo eu era criança eu tinha dois pesadelos que andaram me perseguindo por um bom tempo. Num deles, eu estava na praia, feliz e contente, quando, de repente, uma onda gigante vinha se aproximando, engolindo tudo. Uma tsunami ( na época eu nem desconfiava que existia isso rsrsr). O outro era um ser medonho que me seguia e eu tentava correr e não saía do lugar. Um desespero mesmo... te entendo bem. Mas... graças aos céus, eles se foram... de vez... UFA!!!
Desejo que os seus te abandonem, pq é phoda, com PH.
Bjssssssssssss