Viagem de volta

|
Você já viajou de costas? Não, não estou bêbada, nem louca (eu acho). Falo daqueles ônibus e vans que têm bancos em que vc viaja de costas para o motorista.

Pois é, estava eu, num daqueles ônibus que levam a gente até a pista do aeroporto pra embarcar, de costas, Bob Dylan cantando, sol acabado de "nascer", céu azul, brisa gelada... O ônibus ia em frente, sem pressa, com a calma de quem está na hora certa, no local exato. E eu, ali sentada, sem saber se estava indo na hora certa, pro local exato, mas com pressa de chegar, de ver, de saber.

Fiquei olhando não pra onde estávamos indo, mas olhando de onde vínhamos. O ponto de partida, o espaço percorrido, as marcas deixadas, o que foi. Nós, desde que nascemos, ouvimos que temos sempre que olhar pra frente, viver o agora e enxergar adiante.

Pois eu, naquele momento, senti que a "vida" estava me dando uma oportunidade de olhar pra trás, olhar de onde eu vinha, por onde tinha andado. Na verdade, era eu mesma que estava me dando esse direito, não foi um presente caído no meu colo, foi uma percepção, uma opção.

Então, passei aqueles cinco minutos pensando em milhões de coisas que tinham passado, que tinham ficado. Ao olhar o caminho que os pneus do ônibus tinham acabado de trilhar, eu revivia os caminhos que eu tinha percorrido com meus próprios pés.

Eu sou uma pessoa que ama o fato de estar viva, que não vive em busca da felicidade, mas que encontra partes de felicidade por viver. Não tenho muita paciência pra ficar medindo o passado, fazendo contas, calculando os saldos.

Mas, naquele momento, percebi o quanto o que passou não passou, ficou, estava ali, fazendo parte de mim, indo junto comigo, não só naquele trecho Rio-Salvador, mas por toda a viagem.

6 comentários:

Anônimo disse...

hum... pequenas percepções? um tema muito recorrente à mim,gosto dos momentos nos quais me sento nessa tal cadeira(no sentido literal),ela tbm me provoca reflexão,alias,como todos os momentos que não falo com os outros acabo falando comigo mesmo... rs
A questão é que sentar-me na tal cadeirinha é interessante mesmo,me sinto como naqueles filmes onde te põe um venda nos olhos e te põe um carro pra te levar à algum lugar que vc não deve sabe onde fica...Mas enfim,mais uma piração minha...
Meu real prazer ao sentar-me nessa cadeirinha é ter a chance de olhar à todos sem aquele pudor todo,pois a própria posição favorecida induz à isso... comparo fisionomias,o modo como cada uma se comporta,até mesmo tento contruir a personalidade dessas pessoas(bobagem,eu sei),o que as preocupa,pois sei que cada uma ali tem uma estória que me é desconhecida e que por tras desses rostos desconhecidos podem estar uma,talvez varias pessoas sensacionais que eu nunca vou conhecer...rs

Há tbm inverso,sentar na tal cadeira é igualmente se expor à analise de alguem sensivel...

Será que pensaram nisso quando simplesmente viraram aquela cadeira hein? creio que não,pode ficar com o mérito raro de fazer reflexões acerca das sutilezas cotidianas,vc merece! rsrs

Enfim,ja escrevi demais,bobagens demais,e com pouca "censura"... tenho medo desse meu estado de espirito... hehe
fico por aqui querida,torço por vc,agora!
(10h59)
bjos

Melia Azedarach L. disse...

Ver o caminho percorrido...Bem dizem que a inspiração as vezes vêm do nada, surge, nasce assim de algo tão simples e passageiro e isso parece realmente gratificante.
Esse foi um post gratificante, estou pensando em esquecer os saldos, ir adiante, esquecer de tudo que passou e viver, simplesmente viver e tentar relevar e revelar a mim mesma que certas coisas não tem mais importância e que ainda posso ser muito feliz, mesmo sem ter o bastante.
Mas no momento é aquilo "um momento que não acaba nunca".Um momento que me suga, me cansa.
As vezes é melhor sabermos com quem convivemos logo, para perdermos o remorso por coisas que fazemos e nem são tão graves assim, acho que é isso que aprendi desta vez, perder o remorso e conviver com isso, por que de uma forma muito medonha acho que tudo acontece mesmo quando tem que acontecer e está na hora de aceitar isso.
Um grande beijo querida!

Zunnnn disse...

pensei que gostasse de fazer listas...rs

não ia comentar, confesso, mas não passo sem essas, vc sabe.

Zunnnn disse...

Queria fazer que nem essas pessoinhas acima. rs escrever um texto comentando do seu, mas sou assim, pego sempre idéias principais e fico só no sapatinho dando os pitacos sardonicos. rs

Bill Falcão disse...

Rio? Você falou em Rio? Tô indo pra lá, finalmente!!
Não tem nada melhor do que férias... No Rio, de preferência!!!
E um bjooooooooooo!!!!!!

Anônimo disse...

Estranho a gente valorizar tudo, menos a felicidade. Tipo: antes o sucesso do que a felicidade; primeiro vem a profissão depois a realizaçao de meu ser; antes a vida para "inglês ver", por último, caso dê tempo, a vida inteira ou integral para mim ou para nós mesmos...Nao sei vc, mas estou querendo pôr abaixo essas e outras dicotomias. Acho que devemos querer a felicidade, sim! Tb bem que ela é uma palavra "batida" e nao se reduz apenas a "felicidade imediata" ou a realizaçao do narcisismo do individualismo soberbo, do hedonismo e por aí afora, mas sem ela cadê o sal da vida? Às vezes eu acho que são felizes, principalmente, aqueles que se esquecem e lutam, antes de tudo para que os outros se tornem felizes; às vezes sinto que ser feliz é acordar de manhã e não só fazer sexo com o ser verdadeiramente amado e que nos ama,como tb beijar os filhos;amar sem mta posse e pose...Às vezes, penso, ser feliz é saber envelhecer; ser infeliz é tentar - Sempre- ser jovem o tempo todo...E vc? o que propõe para a gente construir e reconstruir os sentidos múltiplos desta vida junto a felicidade?