Da merda à luz

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Não é novidade pra ninguém que o Impressões não é um diário. Eventualmente, posto comentários sobre coisas que estão acontecendo, mas os meus preferidos (e mais comuns) são mesmo os textos ficcionais. Acontece que, em algumas situações, a vida "real" e minha imaginação fundem-se de tal forma que fico sem saber onde uma acaba e a outra começa. Foi isso que aconteceu ontem.

Um dia estranho no meio de uma fase difícil. Achei que pudesse ser uma boa ideia tentar escrever um pouco. Colocar uma boa música, chamar o teclado pra dançar e ver os riscos que deixamos na tela. Depois de alguns minutos de um bailado meio sem jeito, pus-me a ler o que tinha saído.

O texto falava de alguém que se chocava com formas diretas de suicídio, sem perceber que não viver é o jeito mais lento e doloroso de morrer. Confesso que já escrevi coisas bem piores. Além do mais, não tenho nada contra melancolia e obviedade, mesmo quando me soa cafona. A pieguice, por vezes, muito me agrada. Mas, por um motivo que naquele momento não consegui distinguir, não publiquei o post.

Não publiquei mas também não deletei. Seria muita ironia "matar" um texto meu sobre formas de não viver. Um suicídio literário. Ou será que suicídio literário seria justamente publicar aquele texto de gosto bem duvidoso? Não importa, esse não é mesmo o assunto em questão. O fato é que salvei o post, desliguei o pc e as luzes. Ficamos nós, eu, a música e o escuro do quarto.

Abri a janela, a Lua linda imperava soberana num céu sem estrelas. O sopro da noite e o banho de luar invadiram o claustro do quarto sem a menor cerimônia, assim como invadiu minha cabeça um pensamento reconfortante. Na falta de luz humana, ainda haverá lua.

De repente, pela janela aberta, entrou um vagalume. Enquanto eu acompanhava rodopios de luz esverdeada na imensidão do quarto escuro, meus pensamentos também rodopiavam na escuridão que havia se instalado em mim. Pensava em tudo e em nada exatamente. Mas de repente toda minha atenção se fixou numa única coisa. O vagalume.

Lembrei dos tempos de criança, quando eu acreditava que vagalumes eram pedacinhos de Lua. Na época me parecia uma conclusão óbvia, os vagalumes vinham dos céus e eram feitos de luz, o que mais poderiam ser? Lembrei de outras conclusões simples e singelas da época de infância. Aliás, sempre me encanta a poesia genuína que há nos pensamentos de uma criança.

De repente pensei no quão metafórica era aquela situação. Num quarto escuro, eu abro a janela pra ver a Lua e surge um vagalume, com sua bunda brilhante. A bunda. Num sentido figurado, essa parte do corpo tem muito a ver com situações de crise. A bunda amortece as quedas, e ela que é chutada quando não te querem mais, além de que é a bunda que assenta o corpo cansado numa cadeira enquanto o mundo continua a girar. E por fim (e não menos importante), é da bunda que sai um monte de bosta.

Só que o vagalume estava ali, invadindo a minha escuridão com sua bunda reluzente, me fazendo lembrar de quão versáteis são as coisas, da infinidade de opções que nos são apresentadas a cada segundo, da diversidade de posturas que podemos adotar em cada situação.

Foi o vagalume que me lembrou que de merda à luz, a gente pode encontrar tudo, basta abrir a janela.

20 comentários:

Leo Mandoki, Jr. disse...

é a 1ª vez que vejo esse teu estilo de escrita...é mesmo serio? esse vagalume existiu mesmo?
...
acho que poderia ser tbm..."Da merda à luz de merda"...pq luz de vagalume nao presta pra nada né??!!
...
vc anda mto estranha viu...deve ser coisa de advogado...que so advogado entende...
enqt isso...vou vendo as suas fotos..

Paula Barros disse...

O comentário está quase de trás (bunda) para frente.rsrsrs Por isso subi para pedir logo desculpas.

Querida você não sabe a quantidade de merda que passou na minha cabeça. Terminei seu texto morrendo de rir.

Me perdi no contexto filosófico e reflexivo que vinha fazendo, da luz, lua, luz humana, suicidio, a merda, a bunda....

E é da bunda que eles gostam mais. Fui logo me perdendo nesse profundo raciocínio.
Será que é isso que representamos para a maioria deles, um vagalume, de bunda iluminada? Será que era somente isso que o nobre vagalume queria que você nos contasse? e ficava rindo comigo aqui.

Com certeza esse texto diz muito, mas juro que me perdi na minha loucura. rsrsr


Fez bem em não destruir o outro, fiquei curiosa. E não liga para esse negócio de piegas, ou qualquer coisa desse tipo.

O jornalista que admiro a escrita e que me deu vida nova, há quem diga que ele escreve de forma piegas, no entanto ele é recordista de cartas no jornal que trabalha, todas elogiando.

Tem gente que não sabe lidar com a própria emoção, e se mata lentamente. E desses eu estou dando chutes na bunda.

abraços de admiração.

Carla disse...

é mesmo isso...basta querermos que as coisas podem ter a luz que precisamos
beijos

MARTHA THORMAN VON MADERS disse...

Mas é demais! Fora de série, faça mais textos assim.
Apareça por lá. beijos

Zunnnn disse...

quantos vagalumes precisam pra formar uma lua em casa? rs eu prometi pra mim mesmo dar uma lua de esperanças pra memorias infantis de uma amiga...

:.tossan® disse...

Da merda à poesia. É a poesia! Chutou o balde e ainda fez poesia. E não vá nas ondas de críticos não mude o estilo. Beijo moça.

Anônimo disse...

"Lembrei dos tempos de criança, quando eu acreditava que vagalumes eram pedacinhos de Lua. Na época me parecia uma conclusão óbvia, os vagalumes vinham dos céus e eram feitos de luz, o que mais poderiam ser? Lembrei de outras conclusões simples e singelas da época de infância."

Eu penso que só quando deixamos nossas crianças livres é que conseguimos ver a mágica das coisas e acontecimentos e transformar nossos pensamentos em luz... Quem manda a merda é o adulto!

Bjos grandes de LUZ da LUiA

meus instantes e momentos disse...

basta abrir a janela...com certeza.
ótimo post.
Maurizio

Bill Falcão disse...

Hehehe!!! Nada como um vagalume, vindo diretamente da infância, pra iluminar nossa noite de adultos!
Bjooooooo!!!!!!!!!!!

a má estrela disse...

cadê vc,hein menina?

César disse...

Putz. Ler, com a Carla Bruni de fundo foi sensacional. Sua crônicas são muito bem escritas e bem humoradas, me lembram a escrita de Arnaldo Jabor. Querida Dani, mande para algum jornal, experimente. Tenho certeza de que vão gostar. Eu adoraria ler seus escritos, ainda que nao ideológicos (private joke) uma vez por semana em um jornal=D.


Beijos, e continue assim, sendo o vaga-lume deste blog.


araços,
César

MARTHA THORMAN VON MADERS disse...

Passei para desejar uma ótima semana.
beijos

Ava disse...

É realmente uma imaginação pra lá de de loua.rsrsrs
Esse vagalume vai ficar na história...rs
Creio que nunca mais vou olhar um vagalume comos mesmos olhos...rsrs
E olha que no meu sítio tem muitos...
Vou sempre me lembrar que "de merda à luz, a gente pode encontrar tudo, basta abrir a janela."

Parabés, e publique esse textoque está guardado!


Beijos e carinhos!

~*Rebeca*~ disse...

Danielle, realmente você tem razão. Esse amor pra quem lê é quase palpável e pra quem sente é mais do que tocado. Obrigado pelo elogio ao nosso blog.

Muito bom esse seu texto. Lembro de um tempo em que viver platonicamente era a maneira mais fantástica de vivenciar certas coisas da vida (campo das ideias, ô sofrimento gostoso) e que viver cinicamente era a única saída. Daí quando experimentamos o mundo, percebemos que temos que dar um chute é na acomodação. Mas querer a morte, mesmo que simbolicamente é trágico, cômico seria querer a morte de verdade ou vice-versa. Quanto a merda, estamos todos, mas nada como a luz de uma chuveirada bem forte não resolva.

Até a próxima!

Jota Cê

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Luana Vidotte disse...

Eu pude ver um quarto, uma moça, a janela, a lua, os matinhos, a escuridão, o vaga-lume eu vi até os pensamntos.... éh eu vi pensamentos...

MARTHA THORMAN VON MADERS disse...

Ameiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
boa semana para você

Ester disse...

Ai, garota..

vc sempre a me fazer arrepiar com seus comentários,
desconsertantes mas que consertam,
desalinha alinhando, mais ou menos assim,
pois é, eu já não tenho o mesmo talento para comentar, vou falando aos trambolhões o que sinto..

é isso.

Ester disse...

depois eu volto prá comentar seu texto..

amelia disse...

Menina...que genial!!! Muito bom esse post, viajei mesmo...e fiquei a pensar: há tantas janelas a abrir, sem contar com as da alma...essa, tantas vezes se fecha num emaranhado de sentimentos, timidez, repressões...ui, mas... que se abram para que entrem vagalumes com suas bundinhas verde-luminosas ao som da Carla Bruni cantando quelq'un m'a dit.
Congratulations!!! Bjs