Retro(per)spectiva

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Ontem eu estava pensando no ano de 2008. Tá certo, eu sei que já estamos no fim de abril. Não é propriamente a época de se fazer balanço de fim de ano. Mas fim de abril também não é um mês de verão tórrido e eu estou aqui quase derretendo. Fazer o quê? Há coisas que simplesmente não podemos controlar. Não seguem horários, nem períodos do ano pré-definidos. Assim é o calor, assim são meus pensamentos.

Voltando ao assunto, não estava pensando no MEU ano de 2008, mas em coisas que aconteceram, mais exatamente em duas pessoas, duas mulheres, duas meninas. Isabela e Eloah. Duas vidas interrompidas, bruscamente interrompidas no ano passado. Até aí nenhuma novidade. Centenas, milhares de pessoas morreram em 2008. Mas a morte dessas duas meninas é coberta de um simbolismo que ontem acabou por me dizer muitas coisas.

Elas tiveram mortes quase cinematográficas, com detalhes que facilmente poderiam ter saído da imaginação fértil de um roteirista inspirado. Elas foram torturadas e assassindas por pessoas muito próximas. Antes de seus corpos, foram assassinadas a confiança, a ingenuidade, a crença dessas meninas de que ao menos em casa estariam a salvas do mundo cão que achavam estar girando lá fora.

Eis aí o grande lance. Os anos estão passando, o tempo voando e as coisas, inclusive as pessoas, se modificando. É preciso encarar que o mundo lá de fora entrou sem bater e ocupou os quatro cantos de onde antes as pessoas se sentiam em segurança. As portas, as telas, as janelas estão todas abertas e tudo, de bom e ruim, está entrando, como avalanche, em cada uma das casas, grandes ou pequenas, suntuosas ou humildes.

Antes as pessoas preparavam os filhos pra que um dia eles pudessem sair de casa e encarar os perigos da vida real. Hoje os perigos podem estar acompanhando as crianças num momento em família, podem estar ali, dormindo no quarto ao lado.

Lembrando do caso de Isabela, a imagem que me vem à cabeça é a janela aberta com uma tela cortada. Lembrando do caso de Eloah, vejo uma janela aberta com uma garota e um garoto, ambos com os rostos contorcidos de desespero. Duas janelas abertas. Essa foi a imagem que marcou meu balanço de fim (fim???) de ano. Desconfio de que as portas também estivessem abertas. Simplesmente porque não há mais como trancá-las. O mundo cão já entrou, estará à mesa entre nós na hora do jantar.

9 comentários:

Leo Mandoki, Jr. disse...

isso mesmo!! vc disse tudo agora! acho que vc tem a mesma sensação que eu:
neste exato momento existe uma separação entre o que as pessoas pensam e o mundo em transformação. As pessoas ainda não despertaram para as grandes transformações do mundo.
Por vezes, temos a vã ideia de pensar que os grandes episodios historicos não acontecerão com a gente. Erro!
neste axato momento já estamos vivenciando um crise economica com indicadores piores de que a crise de 1929.
A gripe suína, se a OMS elevar o grau de risco para nº 6, poderemos viver algo parecido com a gripe espanhola de 1918, onde morreram 40 milhões de pessoas no planeta.
A violencia urbana..grécia, espanha, inglaterra...a degradação comportamental da juventude...tudo isso acontecendo à mesa do jantar...e nós não queremos ver o mundo em mudança. E o pior: um mundo mais selvagem, mais individualista, mais agressivo...
vc disse tudo agora...bem bom encontrar pessoas como vc...vc tem uma consciencia muito acutilante e verdadeira da vida...e eu adoro isso!
gosto mto de vc dany

Polly disse...

Por aqui faz frio, o ar tá seco. Atiram em mulheres grávida por aí, tentam salvar os bebês. Eles não sabem o que fazem, nem o risco que correm. Nem os médicos nem as criaças. Neste momento, vivenciamos um gripe-crise-econômica-suína. Nesse momento tem motorista dirigindo embriagado, um moço purando a fila do ônibus.
A revolução tem que começar em casa. Vai ficar mais fácil controlar pandemias e "marolas" economicas. Deixaremos de matar nossos filhos e até de colocá-los no mundo sem critério. Li assim na capa de uma revista na fila do supermercado: "7 anos para salvar o mundo". A Eloah morava bem aqui perto de casa.

:.tossan® disse...

E verdade e o que dizer dos fatos que desconhecemos, aqueles que não foram para mídia? São vários os casos! O mundo está em guerra urbana...Cresce nos grandes centros sem um mínimo de racionalidade. Não quero ser pessimista, porém, as coisas tendem a piorar com os anos. Que Deus nos ajude. Beijo

Kari disse...

É verdade. E quanto você fala que o perigo está dentro de casa, é algo tão real... Cada vez que assisto ao jornal, um padastro estuprou a enteada, ás vezes, o próprio pai... As pessoas estão se perdendo. Perdeu-se o significado de família, que um dia foi "segurança"... E andam até, fazendo se perder o significado de amor... Afinal, no caso Eloah, foi tudo "por amor", né?

Beijos

O Sibarita disse...

Oi fia! Bom texto, ainda, que ditas palavras nos levem a reflexões que não terão soluções, a justiça é falha dai as impunidades que levam as pessoas a cometerem novos delitos e mesmo os que nunca cometeram se sentem tentados.

Mas, é isso, não podemos eixar de acreditar de alguma forma que um dia tudo mudará para melhor!

Escreve bem essa dona moça, faço fé!

bjs
O Sibarita

Fabricante de Sonhos disse...

As janelas...
Quando penso em janelas, o q me vem a cabeça são as palavras: liberdade, paisagem, vista, vida...

Nesses casos, perdem totalmente esse sentido e tornam-se fúnebres e tristes...

O que está havendo com o mundo? O que ocorre com essas pessoas???
Desespero?
Não... Maldade mesmo.
E o que mais dói é quando penso que esses casos, foram os que a mídia divulgou e destacou... Imagino quantas Izabelas e Heloás não existem por aí...

Enfim... me resta rezar... Por elas, e principalmente pelo mundo... E por essas mentes más...

Adorei o post, viu? A iniciativa de relembrar que estamos falando de vidas que foram interrompidas... Tão cedo ainda...

Tenha um ótimo final de semana!
Que Papai do Céu te ilumine para que vc possa sempre escrever mais e mais...

Beijo meu...

Fabricante

Ana Clara Otoni disse...

Já dizia alguém (sábio)que o mundo que deixaremos para os nossos filhos dependerá dos filhos que deixaremos para o mundo. O que me incomoda ainda mais, além da morte brutal dessas meninas, é saber de quantas outras não foram noticiadas, ou pior, não foram julgadas. A imprensa muitas vezes dramatiza acontecimentos a tal ponto de compará-los a roteiros de cinema, mas a grande questão é até que ponto a brutalidade deve ser noticiada? Não é difícil lembrar que depois dos casos Eloah quantos outros crimes passionais vieram a tona? Ou quantos casos de pedofilia foram denunciados? Até quando discutiremos o passado, sem reflexões do presente e previsões de futuro?

~*Rebeca*~ disse...

Danielle,

O mundo todo choca, o dia-a-dia choca e não sei quando todo esse medo que é alimentado dentro de nós vai parar. Vamos deixar filhos na escola e temos medo que algum amigo brinque errado. Estamos no trânsito e nos apavoramos com o primeiro flanelinha que aparece pela frente. Todos viraram suspeitos e deixamos a ingenuidade da hospitalidade pra trás há algum tempo. Não sei, não gosto de pensar muito na desgraça por aí afora... eu apenas tento fazer do meu dia de hoje, algo menos pesado pra se pensar.

Beijo grande.

Rebeca

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Zunnnn disse...

É verdade...
Não tem lugar que podemos nos esconder.. Estamos jogando todas as fichas, arriscando tudo por um momento, chamado vida...

Que a janela esteja aberta, não por não ter proteção alguma, mas como entrada de liberdade sem ser nivelada...

bjs