De Bebel a Rakelly...

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É bem verdade que não tenho visto novelas nos últimos tempos. Não, não sou uma aficcionada por séries norte-americanas que foge da cafonice de se assumir "noveleira". Não sou fã de FRIENDS e sou assumidamente piegas. Também não é falta de tempo, ando gastando tempo com coisas ainda menos produtivas.

Pois é, não vejo mais novelas diariamente simplesmente porque não preciso fazê-lo pra "acompanhar" a estória. É só ver um dia na semana, ou então olhar a chamada nos intervalos comerciais. De uma forma ou de outra, vc acaba entendendo tudo que aconteceu nos dias em que vc não assistiu.

Acho que todo brasileiro, por genética ou repetição mesmo, tem a capacidade de prever quase tudo que acontecerá no próximo capítulo. Ou vai dizer que nunca soube o que a mocinha responderia ao vilão antes mesmo dela falar?

Então, por isso mesmo, ando meio longe dos folhetins televisivos, mas, como já disse, isso não quer dizer que estou destualizada sobre o que está acontecendo, de forma que até vou me sentir à vontade (afinal estou no MEU blog...rs) pra fazer uma observação.

De uns tempos pra cá, eu andava meio preocupada com um fenômeno que via se alastrar pelas telas de tv (e por todo o resto). Eu o chamava de "movimento do é bonito ser feio". Não queridos, não falo de atributos físicos. Vou explicar...

Vi, por repetidas vezes, o preconceito, a desonestidade, a covardia e tudo o de pior que há em cada um de nós ser coberto por uma camada bem grossa de simpatia, carisma e até certa ingenuidade. Uma Sandrinha que humilha os pais pobres. Um Agostinho que furta, corrompe e mente, tudo isso travestido de modelo de brechó. Uma Bebel que fez o que quis não só com as outras personagens, mas com esse país inteiro.

Ah, está certo, não estou aqui pra tentar te convencer de que essas personagens não têm muito de mim, de vc e até da sua vizinha velhinha de olhos doces que passa os dias tricotando roupinhas pra doar a campanhas de agasalho. Muito pelo contrário, eu mesma disse que essa podridão há dentro de todos nós.

O que me preocupou não foi ver isso tudo exposto na tv, até porque isso sempre esteve lá, e sim ver essas figuras quase transformadas em heróis nacionais. Pense bem: Bebel foi a grande mocinha da novela das oito, afinal ela saiu do nordeste com "uma mão na frente outra atrás" e chegou a Brasília, até depôs em CPI, oras. Ah, se ela mentiu, corrompeu, armou e enrolou, qual o problema? O que importa é que chegou "lá". E viva Maquiavel !!!

Já sei o que vc deve estar pensando, novelas refletem a realidade, um mundo corrompido de pessoas corrompíveis. E além do mais, não dava mais pra engolir aquela visão maniqueísta das novelas em que mocinhos não tinham nem espinhas ou dor de barriga e bandidos eram piolhentos e fedidos. Concordo com vc, mas continuo achando que essa não era a melhor resposta pra tudo isso.

O bom disso tudo é que os "fenômenos" passam tão rapidamente quanto estrelas (de)cadentes, e o movimento "é bonito ser feio" não está mais na crista da onda. Sandrinha e Bebel morreram, embora suas almas (penadas) ainda voltem de vez em quando pra nos assombrar... rs.

Agora, estamos bem diante de outro fenômeno de audiência, eu ainda não o denominei, talvez ele passe antes que eu o faça (ando pouco inspirada ultimamente), mas bem poderia ser "humanamente encantadoras".

Elas são muito "defeituosas" pra ocuparem o papel de mocinha da trama, afinal a mocinha não pode apresentar claros sinais de alto grau de retardo mental, nem pode estar mais pra palhaça do que pra princesinha. Mas, isso não as impede, e na verdade, talvez sejam exatamente seus defeitos tão humanos que as alçaram à posição de destaque que ocupam hoje.

Confesso que preferia ver as crianças educando-se por outros meios que não os televisivos, muito menos as novelas. Mas, não levo tanto jeito assim pra Pollyanna, sei que não é bem assim que as coisas funcionam.

Então, se o impacto perturbardor que as novelas e suas personagens têm nesse país é um fato consumado, melhor que Rakelly (é assim que se escreve?) e Elzinha tenham destronado Bebel e Sandrinha. Aliás, tenho que confessar que acho que Rakelly é uma caricatura perfeita e cômica de algumas pessoas que conheci. Fora que o "biscoito fino" fica muito mais bonitinho na boca das crianças que a "catigoria" de outrora.

Moralista, eu? Será? Nem sei mais. Esse é um dos termos cujo significado anda muito confuso nos últimos tempos.

Enquanto tento descobrir o que sou, vou aguardando as cenas dos próximos capítulos...rs.

7 comentários:

Melia Azedarach L. disse...

Querida vou te confessar uma coisa que é o motivo de não poder encher linguiça nesse comentário...Eu não vejo TV, é a pura verdade, não vejo TV a muito tempo, não vejo nada nela além de filmes no DVD...
Mas da época que eu via, bom lembro de jovens bonitinhos esteriotipados, que não comiam, não ficavam sujos nem descabelados, ou eram muito ruins ou bem bonzinhos...ou seja 8 ou 80
Enfim é disso que eu lembro e eu ainda prefiro os seriados, os antigos adoro, mas sinceramente só vejo filmes e desenhos algumas vezes.

Resumindo eu to na época errada, fico tricotando e tomando chá e ouvindo música e quero um som de madeira já hahaha.

Ah, querida nem ligue para as bobagens, aliás, ria delas rsrs.

Beijão enorme, afinal to falando contigo agora rs

PH Acupuntura disse...

Bom... to mais ou menos no mesmo barco q a melia... já nem assisto mais tv... só filmes e olhe lá (atualmente até vejo mais no pc q na tv)...

Enfim, oq tenho q confessar é: n me pergunte pq, mas seu tópico me deu até um certo medo... n sei se é pq n entendi qs nada, ou pelo tom "sério e aterrorizante", meio q pendendo p/ aquele humor d "to rindo contigo mas arrancarei seus olhos", mas seu post me deu medo...

Dito isso... MUITO BÃO! =-]

Se cuide-se, menininha.

Anônimo disse...

Não é que tu tá certa??? Essa inversão de valores imposta subliminar e descaradamente aos milhões de expectadores dessa aldeia global só me fazm pensar que esse veículo (TV GLOBO, principalmente)serve muito para afirmar o que o Brasil tem de pior: bandidos travestidos de mocinhos e mau caratismo com cara de coisa sem maldade, engraçada. AFF... cada vez vejo menos novelas e mais filmes em DVD.
Mas... na verdade, o que eu quero mesmo comentar aqui é a sua versatilidade Helen. Eita mulher polivante. Essa "matéria" que vc escreveu deveria ser publicada em algum jornal do país. Tem certeza que vc não é também jornalista? Eu poderia jurar que sim... adorei.
Bjs,
amelia

Anônimo disse...

bem vinda ao imaginário brasileiro, minha "querida" pota meia aberta!
rs

Abraço

Zun

Ricardo disse...

Qual é a explicação para o "é bonito ser feio" observado pela autora? Lembro-me de uma música: "é que narciso acha feio o que não é espelho". As pessoas estão fartas de ver o diferente... o príncipe e a princesa encantados, inverossímeis. Os tipos retratados estão próximos da realidade e, por isso, cativam mais as pessoas. O gozado é que o gosto obedece a limites complexos: as pessoas não gostam do irreal óbvio, mas também não se atraem pela realidade nua e crua: real, mas nem tanto! A hipocrisia alimenta a todos: não me mostre príncipes e princesas, mas também não me dê um espelho... Ao menos me dê uma máscara antes de me dar o espelho... Novelas próximas demais à realidade estão fadadas ao fracasso. Filmes europeus dramáticos de fundo realista atraem menos do que as aventuras e romances norte-americanos. Lembro-me novamente de Sartre e seu muro... a contemplação é um fenômeno bem interessante. A gente sabe que ali há um lado horrível, mas fingimos que não sabemos. A hipocrisia torna a vida bem mais fácil, mantém a sociedade funcionando, é um importante motor social. Essas personagens são horríveis... não, imagina, são bonitinhas! Tal qual todo ser humano. Bonitinho? Poupe-me... Na "era do vazio", da glória do "narcisismo", eu até entendo sua necessidade, mas abro mão dela: não preciso da máscara para aceitar o espelho. Viva Hobbes!

Ricardo disse...

E para quem gosta da flor do lácio... inculta e bela. Não é "a pouco tempo", é "há pouco tempo". Viva a democracia proporcionada pela era do vazio, viva a era do blog. A quem estou atacando? Divirta-se leitor. Por que estou fazendo isso? Divirta-se novamente. A época poderia ser de Domingos Paschoal Cegala,Celso Pedro Luft, Celso Cunha, Evanildo Bechara, Napoleão Mendes de Almeida... para quem não assiste TV! E para quem no futuro procurar erros nos meus comentários: quem disse que não os cometo? Isso é uma equiparação? Será?... Humanos, demasiado humanos! (rs... será que alguém identifica essas referências?).

Anônimo disse...

intiresno muito, obrigado