Apenas mais um ato

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- Lembra daquele meu amigo? Aquele que veio aqui em casa, na festa do meu último aniversário?
- Havia tantos amigos seus aqui em casa naquele dia.
- Você sabe sim. É aquele alto, que vive fazendo piadas.
- Ah, acho que sei. Não é aquele que tinha perdido a mãe há pouco tempo?
- Esse mesmo ! Hummm, agora sei por que ele não estava fazendo tantas piadas.
- Eu não gosto dele. Também não gosto desses seus outros amigos. Eles te incentivam a beber.
- Eles não me incentivam a beber. Você me incentiva a beber. Você e essa sua mania de falar mais palavras por minuto do que minha cabeça consegue processar. Daí preciso de algo que me faça relaxar depois de tanto esforço. Será que é possível alguém sofer de LER por esforço repetitivo do cérebro?
- Muito engraçado. Quer saber? Eu não falo muito, só o suficiente, aliás nem o suficiente, afinal ainda não te convenci.
- Afinal de contas, você quer me convencer a fazer o quê?
- Quero te convencer a mudar.
- Posso saber o que você quer mudar em mim?
- Nada demais. Quero que você pare de beber, comece a se tratar, durma mais cedo, faça as refeições na hora certa e faça exercícios físicos. Isso é pedir muito?
- Não, claro que não. Afinal você nem quer que eu morra e nasça de novo.
- Destesto quando você me responde nesse tom irônico.
- Verdade? Então, esse pode ser mais um item pra sua lista de mudanças. Mas, voltando ao assunto, eu não estou bebendo tanto assim e você está sendo injusta, estou me tratando. Não fui ao médico no mês passado?
- Foi.
- Então? Como você pode dizer que não estou me cuidando? Eu até comprei os remédios que ele prescreveu.
- Ah, é verdade. Você só esqueceu que gavetas não tomam remédios e que o médico não mandou você comprar os medicamentos, mandou você usá-los.
- Eu detesto remédios.
- E é pra mim que você diz isso? Estou cansada de saber que você detesta remédios. E sei exatamente por quê.
- Também, a resposta é fácil. O governo coloca veneno em remédios usados por velhos pra que morramos todos e deixemos de ser um peso pra seguridade social.
- Deixa de bobagem. Você compra seus remédios na farmácia, não pega no posto. Fora isso, o governo tem mais a fazer do que matar velhos, pra que sujar as mãos? A "violência" faz o trabalho sujo. Mas, não adianta tentar me enrolar. Você não toma os remédios porque se tomar não poderá beber.
- Claro que não. Eu já não tomava os remédios quando não bebia.
- Engraçadinho. Qualquer dia você morre e ainda vão dizer que não cuidei bem de você.
- Não vou morrer tão cedo. Tenho que cuidar de você, afinal sou o homem da casa.
- Sei, sei. Também me pergunto o que faria se não tivesse você.
- Agora é você quem está sendo irônica.
- Não estou sendo irônica. Passo metade dos meus dias cuidando de você e a outra metade pensando em como cuidar melhor de você.
- Eu sei, você ainda não desistiu, não é?
- Nunca vou desistir. Você não vive repetindo o quanto sou teimosa.
- Devia falar mais vezes o quanto você é adorável, além de teimosa.
- Isso é uma declaração de amor?
- Prefere que eu diga que te amo?
- Se eu preferisse esse tipo de declaração de amor, não tinha casado com você. Gosto do seu jeito.
- Querida, sabe de uma coisa? Eu não mudaria nada em você.
- Nem eu.
- Ah não? E aquela lista interminável?
- Amor, vamos dormir? Vem cá pertinho, vem. Apaga a luz.
- Está certo, boa noite.

5 comentários:

Bill Falcão disse...

É, tem horas que o melhor a fazer é dizer "boa noite" e deixar a natureza seguir o seu curso. Mas esse diálogo me lembrou uma antiga história:

A mulher casa esperando que o homem mude, mas ele não muda.
E o homem casa esperando que a mulher não mude, mas ela muda.

Hehe!! E um bjooooooo!!!!!!

Anônimo disse...

bom nem sei o que comentar porque este post envolve decisões pessoais, visões intimas sobre o que é certo e errado, conveniente e inconveniente de cada pessoa envolvida.
é dificil dizer para alguém não fazer certos hábitos que dão prazer, ou é confortável para a pessoa que faz, pois a decisão de se desprender de certos hábitos cabe a quem faz e que só faz quando de fato percebe que incomoda, é a consciência que traz a lucidez para o modo de agir.
por isso eu não vou tb dizer o que é certo nem errado, nem dizer o que eu penso, cabe a quem vive cada ato decidir se vale a pena.
bjs!

Matheus Pedroza disse...

só tenho uma coisa a dizer: coitado do cabeção!!! rsss

bjos

Melia Azedarach L. disse...

Preciso dizer alguma coisa?
Estou aqui meio cansada, meio ansiosa com tudo.
Tenho que limpar a casa, tenho que organizar o que estudar e quando estudar, preciso caçar emprego direito.Endireitar minha vida.
Então venho aqui para uma folguinha e leio isso e me faz lembrar de tanta coisa...Ainda prefiro assumir esse meu coração meio vazio, meio cheio, esse cansaço mais do que cansado.
É isso a Melia voltou, para os que reclamaram da minha "falta" aqui estou.
Um grandioso beijo querida!

Anônimo disse...

Vi muito, entendi um pouco e conclui... an? rs

abraço

zunnnnnnnnnnnnnnnnnnnnn